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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Um professor e as "novas eras"

Afinal, com o que, ou quem, “Não se deve ser crítico demais”?

“As novas eras”, ou um tempo no qual também se ensina e aprende, além de se desejar fazê-lo, são sempre uma confusão só. Até mesmo por causa do homem que lhes abre um, dois ou três caminhos e com o qual “Não se deve ser crítico demais”. Vivê-las é uma questão de poesia, ou de Brecht (2012, p. 25, 294):

As novas eras

As novas eras não começam de uma vez
Meu avô já vivia no novo tempo
Meu neto viverá talvez ainda no velho.

A nova carne é comida com os velhos garfos.

Os carros automotores não havia
Nem os tanques
Os aeroplanos sobre nossos tetos não havia
Nem os bombardeios.

Das novas antenas vêm as velhas tolices.
A sabedoria é transmitida de boca em boca.


Não se deve ser crítico demais

Não se deve ser crítico demais.
Entre sim e não
Não é tão grande a diferença.
Escrever no papel em branco
É uma coisa boa, e também
Dormir e comer à noite.
A água fresca na pele, o vento
As roupas agradáveis
O ABC
A defecação.
Falar de corda em casa de enforcado
Não é apropriado.
E na lama
Ver uma clara diferença
Entre argila e marga
Não convém
Ah
Quem é capaz de imaginar
Um céu de estrelas
Esse
Bem poderia calar a boca.


Referência:

BRECHT, Bertold. Poemas 1913-1956. Seleção e tradução: Paulo César de Souza. 7. ed. São Paulo: Editora 34. p. 25, 294.