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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Da inteligência da literatura

ALBUM LITTERARIO, em seu editorial de 15 de agosto de 1860:
A inteligência não para; qual águia, que só procura as alturas e vencer o espaço, ela, a par do tempo, que deixa cair cada dia um grão de areia da ampulheta da eternidade, ganha um passo na perfeição, novas descobertas nos traz e na comparação do passado substitui com a experiência o que na prática se tornou inferior. Bastará lançar os olhos para época não muito remota para surpreender-nos a revolução universal operada por ela.
Pode-se quase dizer que a inteligência e a perseverança do homem, de mãos dadas, poderiam resolver a própria natureza.
Astro nimiamente luminoso como ela é, a despeito mesmo das névoas do indiferentismo, luz cada vez com mais intensidade e vai deslumbrar a vista dos que no antro da ignorância nunca a viram, nem a conhecem; e se, qual flor, uma ou outra vez se elanguesce ao descambar de um dia, é para na aurora do outro mais viçosa e brilhante reverdecer, orvalhada pela fé do progresso.
E a literatura, cadeia que liga as tradições dos séculos, monumento que jamais a mão do tempo poderá abalar, é a filha mais mimosa da inteligência.
[...].
ALBUM litterario [editorial]. Album Litterario: periodico instructivo e recreativo, Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, p. 1, 15 ago. 1860. Disponível em: http://memoria.bn.br/DOCREADER/DocReader.aspx?bib=221805&PagFis=1. Acesso em: 10 jul. 2019.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Lição familiar

A vida é mais que um jogo de paciência, de gato e rato, de cabo de guerra. É preciso refletir detalhadamente sobre os afetos e desafetos daqueles que nos são mais próximos. Sempre com a coragem de olhar na cara do próprio medo e desvestir a falsa coragem, que apenas agride. Só assim para mostrá-la, não nua, mas vazia. Isso ajuda bastante a nos aproximarmos da verdade que nos deixa enxergar com mais clareza e com mais calma tudo o que o tempo nos ensinou, matou e salvou.
Necessitamos dessa confissão para que a vida vivida fique mais leve e a morte futura não nos assuste tanto.
KAFKA, Franz. Carta ao pai prezado e temido [fragmento]. In: BENTACUR, Paulo (Org.). Três pais. São Paulo: Atual Editora, 2014. p. 47.