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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

De Aranha e Martins, "O conhecimento filosófico"

Conta a tradição que Diógenes, filósofo grego da escola cínica (século IV a.C.), discípulo de Antístenes, aceitando o princípio de que para atingir a verdadeira felicidade é necessário "viver como um cachorro", abandona sua casa e passa a viver em um barril.

Já Euclides, da escola pitagórica (também do século IV a.C.), ouviu esta pergunta de um discípulo:

- Mestre, o que ganharei aprendendo geometria?

Como resposta, o famoso geômetra e filósofo ordenou a um escravo:

- Dê-lhe uma moeda, uma vez que precisa ganhar algo, além do que aprende.

Referência:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. 2. ed. rev. São Paulo: Moderna, 1998, p. 77.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

De Karl Jaspers, "O que é filosofia"

[...] O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz.

E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito.

No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.

Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.

Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo mesma.

Referência:

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo, Cultrix, 1971. p. 138.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De Alberto da Cunha Melo, "Lições tardias"

Não devemos aprender a esperar.
Devemos, sim,
esquecer as coisas esperadas.
Ainda que nos digam:
"espere-me, à hora tal, em tal jardim",
o jardim nos deve bastar.
Que a chegada daquilo
que nos fez esperar
seja algo normal naquele mundo,
como a morte de uma borboleta
ou a fuga de um lagarto nas pedras.
Se nada chega,
se ninguém aparece,
não notaremos a sua falta.

Referência:

CUNHA MELO, Alberto da. Lições tardias. In: ______. O cão de olhos amarelos & outros poemas inéditos. São Paulo: A Girafa, 2006. p. 223.