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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Estórias

Esses vídeos a mim dizem muito, principalmente quando inter-relacionados, e de tal modo, que eu também preciso cantá-los:
  1. Susan Boyle, no Britain's Got Talent (2009), interpretando “I dreamed a dream”;
  2. Jonathan Allen, no America's Got Talent (2013), “Con te partirò”;
  3. Alice Fredenham, no no Britain's Got Talent (2013), “My funny valentine”; 
  4. Calum Scott, no Britain's Got Talent (2015), “Dancing on my own”;
  5. Christian Burrouws , no The X Factor UK (2016), uma música de sua autoria;
  6. Beau Dermott, no Britain's Got Talent (2016), “Defying gravity”.

A ordem cronológica talvez me livre de explicar porque essa sequência me é tão particular.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Morre-se de Brasil, também

Dizia, um de meus professores prediletos, ter morrido, Lima Barreto, de Brasil. Ao que, desde então, tenho tentado verificá-la, essa tese, (re)descobrindo tal autor, um/o "fora da curva", na perspectiva de Schwarcz. Muito recentemente, inclusive, através de "Sátiras e outras subversões: textos inéditos" – obra póstuma, organizada por Felipe Botelho Corrêa, de cujos textos destaco "Providências governamentais":

“A reunião do ministério foi naquele dia secreta, isto é, não foi anunciada nos jornais. Especialmente convidados, compareceram também, com o informante, o prefeito de polícia e o inspetor dos detetives (aguazil-mor).
El-Rey Pechisbeque abriu a sessão fazendo um gesto de quem ia colher o manto de arminho, crivado de abelhas merovíngias, e depositou em cima da mesa uma magnífica “Santa Luzia” de cinco olhos, todos eles com incrustações de marfim e ouro. Era o seu cetro característico de Carlos Magno com que figurava os seus retratos pululantes.”

O desfecho dessa história parece prenunciar o nosso próprio desfecho, enquanto país.

Referência:

BARRETO, Lima. Providências governamentais. In: ______. Sátiras e outras subversões: textos inéditos. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2016. p. 86-88.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

“A literatura é apresentada na escola como velha, chata e obrigatória", dizem

Um perigo, penso eu, defender a tese de que “A literatura [ou] é apresentada na escola como velha, chata e obrigatória” ou, simplesmente, não é apresentada. Primeiro, porque precisamos nos perguntar: qual literatura, em que escola, e por quê? Modos são sempre vários, alguns coincidentes – para o bem ou para o mal; neste caso, favorecedores da formação de um leitor literário que oscila entre o comum e o incomum. Segundo, devido à singularidade do trabalho de resposta a essas perguntas, que, se levado a sério, opõe-se, invariavelmente, à indução de ideias generalizantes como a que se coloca. A partir de minha experiência enquanto professor de Língua Portuguesa, nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, por exemplo, percebo outros obstáculos, e impostos a um empreendimento anterior ao do letramento literário: o da formação leitora e escritora do sujeito, que, às vezes, ou na maioria delas, não se sabe sócio-histórico-cultural. A começar por aqui, por essa constatação, talvez o nosso trabalho seja mais fundo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A literatura me abre os olhos

[...]. Se tivesse a tolice de se perguntar ´quem sou eu?´ cairia estatelada e em cheio no chão. É que ´quem sou eu?´ provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto. (LISPECTOR, 2006, p. 15).

Referência:

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p. 15.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ler e escrever (literatura)

Especialmente, aos professores que assumem essa lida

Acredito mesmo na leitura e na escrita enquanto metonímias da inclinação do sujeito sócio-histórico-cultural à interpretação de si e do mundo, e de sua urgência em transformar a ambos. Numa interdependência que se sabe relativa, quando da associação do exercício escritor ao leitor. E, por isso, na ação docente para favorecer esses dois movimentos sem, no entanto, distanciá-los. Agradecendo, é claro, a Gustavo Bernardo, por tais lições, sobretudo em “Ler é preciso assim como ser livre é preciso” e “Espelho”. É sua a crença, por exemplo, de que os livros nos servem principalmente como espelho; entregando-nos um vazio abissal, a partir do qual, cada um, ao seu modo, busca preenchê-lo. Pois, como nos adverte, “Dizem que as perguntas fundamentais são quatro. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Afinal de contas, o que estou fazendo aqui?” (BERNARDO, 2010). Ao menos, para que não se precise fazer elogio à superficialidade. Porque, sim, “[...] somos condenados à leitura.” (BERNARDO, 2002). Digo, por extensão, que literatura, o seu estudo, a sua leitura, tem que arder. Concordam?

Sobre o segundo texto, a propósito, lancei esses desafios aos meus alunos da 3ª série do Ensino Médio, aguardando ansiosamente por sua resposta:
  1. Se irrespondíveis como sugere Gustavo Bernardo, as quatro perguntas fundamentais à existência humana justificam-se de que modo? Demonstre.
  2. O que experimentariam aqueles obstinados em respondê-las, na perspectiva do autor? Explique.
  3. Como você responderia a cada uma delas?
  4. Esclareça a metáfora do espelho nesse contexto. Para isso, considere a seguinte passagem: “O primeiro livro que a gente lê é um dos primeiros espelhos”.
  5. “Ler é um movimento externamente passivo [...]. Escrever, por sua vez, [...] ativo [...]”. Justifique, discutindo a relação entre leitura e escrita apontada pelo autor.
  6. Segundo Gustavo Bernardo, o que leva as pessoas a ler e a escrever? Quais os benefícios desses esforços e por que se pode afirmar como sua direção a do espelho? Problematize.
  7. As concepções de leitura e de escrita defendidas no texto sob análise coincidem com aquelas por você formuladas ao longo de sua escolarização? Compare-as.
  8. Ler para entender o mundo e escrever para transformá-lo: assim você o faz? Analise.


Referência:

BERNARDO, Gustavo. Ler é preciso assim como ser livre é preciso. In: SERRA, Elizabeth D’Angelo (Org.). Ler é preciso. São Paulo: Global, 2002. p. 131-137.

______. Ato: espelho. In: ______. Redação inquieta. São Paulo: Rocco, 2010.

Quem diz a literatura

Revela-me, o Instituto Camões, estar lendo, Sophia de Mello Breyner Andresen, um fragmento de sua Arte Poética [III], texto divulgado pela autora em “11 de julho de 1964, no almoço de homenagem promovido pela Sociedade Portuguesa de escritores, por ocasião da entrega do grande Prêmio de Poesia, atribuído a ‘Livro Sexto’” – inclusive, de fácil localização na Internet. Embora o vídeo, pelo que se confirma no CINEPT – Cinema Português, seja um trecho de um curta-metragem de 17 min, produzido em 1969 por João César Monteiro, e estreado em 1972. De todo modo, vale o compartilhamento.

Sobretudo por uma passagem que me prova precisarem, sim, os nossos alunos, de nossa ajuda, seus professores de língua portuguesa (e literatura), para olhar esse mar (a poesia, a arte) que ainda não “conhecem” – tal como Diego de seu pai, Santiago Kovadloff, nas palavras que Eduardo Galeano registra n’O livro dos abraços como “A função da arte/1”. Ei-la:

A coisa mais antiga de que me lembro [...] [não] era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. [...]. [...] faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida [a obra de arte]. [...]. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor. E é por isso que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia. E a busca da justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de toda a obra poética. [...]. Esta lógica é íntima, interior, consequente consigo própria, necessária, fiel a si mesma. [...]. Eis-nos aqui reunidos [...].

sábado, 30 de julho de 2016

De Alcides Villaça, "Drummond sem paredes"

Numa das cartas a Mário de Andrade (mas qual, mesmo?) assegura-lhe o amigo Carlos que é com uma caneta na mão que vive suas maiores emoções. Comentando isso com um jovem aluno, entrevi sua discreta expressão de piedade por aquele poeta sitiado e infeliz, homem de gabinete, gauche mineiro que não se atirou à vida. Não tive como lhe dizer, naquele momento, que entre as tantas formas de se atirar à vida está a de se valer de uma caneta para perseguir e achar as falas humanas mais urgentes e precisas, essenciais para quem as diz, indispensáveis para quem as ouve, vivas para além de uma vida.

Referência:

VILLAÇA, Alcides. Drummond sem paredes. Facebook, página pessoal de Alcides Villaça, 30 jul. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/wbsgtp>. Acesso em: 30 jul. 2016.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

"Mundo da lua"

Vontade de chorar tudo o que li, ou esta minha imagem refletida em um espelho! Vontade me abraçar!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

"Os livros são objetos transcendentes"

SOCIEDADE 
É deveras difícil dizer qualquer coisa sobre a sociedade da Bruzundanga. É difícil porque lá não há verdadeiramente sociedade estável. [...].
[...].
Uma tão vulgar preocupação pauta toda a vida intelectual da sociedade bruzundanguense, de modo que [...] o tema geral dos comensais é a política [...].
A política não é aí uma grande cogitação de guiar os nossos destinos [...].
Sendo assim, todas as manifestações de cultura dessa sociedade são inferiores. [...].
[...]. As obras mais notáveis que lá têm aparecido são escritas por homens que vivem arredados da sociedade bruzundanguense.
Em uma sala desse país, quando não se trata de intrigas políticas ou coisas frívolas de todos os dias, surge logo um tédio inconcebível. Ele sepulta o pensamento, antes de matá-lo: enterra-o vivo. Mereceria detalhes, mas só fazendo romance ou comédia.
[...].
Incapaz [, a gente da Bruzundanga, ] de fazer aparecer no seu seio razoáveis manifestações intelectuais, ela é ainda mais incapaz de apoiar as que nascem fora dela.
[...].
Tudo lá é conforme a moda. [...].
[...].
Referência:

BARRETO, Lima. Os bruzundangas: a sociedade [fragmento]. 4. ed. São Paulo: Ática, 2011. p. 81-84.

segunda-feira, 14 de março de 2016

A Marisa Monte que me abraça

17 músicas de Marisa Monte me abraçam, entre aquelas componentes de seus 9 discos lançados, individualmente, de 1989 a 2014. Mas, não 17 canções distintas ou, apenas, 17: enquanto "Segue o seco", de Carlinhos Brown, apresenta-me dois caminhos que eu decidi seguir (o primeiro, no álbum "Verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão", de 1994, e o segundo, em "Barulhinho bom", de 1996), diferentemente de "Beija eu", que eu prefiro em Barulhinho; muitas delas, compostas pela própria cantora (12 das 17), e outras tantas, por Nando Reis ("Diariamente"), Caetano Veloso e Gilberto Gil ("Panis et circenses") ou, ainda, Carlinhos Brown (agora, com "Perdão você"), a mim, dizem muito; sobretudo, a respeito de como nascemos para as mesmas histórias, em livros e/ou canções, sobre como morremos, todos, por um mesmo abraço, à espera de um Arnaldo Antunes que se meta em nós, também para recitar não qualquer trecho de "O primo Basílio", mas aquele de quando Amor I love you:

[...]. tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saia delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! (De Eça de Queirós, fragmento de "O primo Basílio")

Noutro dia, [-] Perdão [,] você [!], ei de lhe explicar porque "Água também é mar" ou "O que você quer saber de verdade, essa minha história".

***

Minhas músicas em um Monte: 

Mais (1991)
          1 Diariamente
Verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão (1994)
          2 Segue o seco
Barulhinho bom (1996)
          3 Panis et circenses
          4 Beija eu
          5 Segue o seco
Memórias, crônicas e declarações de amor (2000)
          6 Amor I love you
          7 Perdão você
          8 Gentileza
          9 Água também é mar
Infinito particular (2006)
          10 Infinito particular
          11 Vilarejo
          12 Pra ser sincero
O que você quer saber de verdade (2011)
          13 O que você quer saber de verdade
          14 Depois
          15 O que se quiser
          16 Ainda bem
          17 Seja feliz

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A minha história entre as de Valter Hugo Mãe

Talvez seja esta a minha história entre as de Valter Hugo Mãe, ou não. Mas, as suas antíteses ou paradoxos (mágoa/ternura, morte/quietude), alguns de seus aforismos ("Os santos aparecem, os demónios assombram"), além de certas prosopopeias e, principalmente, metáforas ("Era tudo velho. A gente, os sonhos, os medos e as montanhas."), arrebatam-me de um modo que eu, ainda, estou tentando compreender. Vejam-no:
[...].
Podia ser que eu estivesse ainda mais magra por ter ficado vazia dos poucos gramas que pesava a alma. A minha mãe chamava-me estúpida. Perguntei-lhe que sentido encontrava na vida. O que andaríamos ali a tentar descobrir. Mas ela nunca o saberia. Surpreendeu-me com a profundidade da questão. [...]. Magoávamo-nos, acreditava eu, sempre por causa da ternura. Como que a reclamá-la enquanto a perdíamos de vez.
Mais tarde, ouvia-a alertar o meu pai. Em alguns casos de morte entre gémeos o sobrevivo vai morrendo num certo suicídio. [...].
[...]. Não queria morrer. Estava entre matar e morrer, mas não queria uma coisa nem outra. Queria ficar quieta.
Repeti: a morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.
[...]. Obrigada a andar cheia de almas, eu era um fantasma. [...]. As nossas pessoas olhavam-me sem saber se viraria santa ou demónio. Os santos aparecem, os demónios assombram. (MÃE, 2014, p. 9-13).
REFERÊNCIA

MÃE, Valter Hugo. A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p. 9-13.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O que não faz um homem com a própria língua?

Em seu perfil / canal do Youtube (“Tomada de Voz”), Fabrício Carpinejar não compartilha, apenas, alguns dos seus textos literários, mas o próprio movimento que empresta a eles, ou vice-versa, e, talvez, o nosso mesmo. “Em Tomada de Voz”, a palavra corre... Na criação por mim destacada (“O amor não é pros fracos”), a título de exemplo, como não girar, e girar, em torno do “Amor [...] que fica depois de ir embora”? É claro que eu sei... Há outras histórias, sim! Pelo menos, “Até [se] acertar a companhia”, como o poeta sugere... Mas, fiquemos com o abraço de agora! O que acham?

De Fabrício Carpinejar,
Amor é o que fica

De Fabrício Carpinejar,
Até acertar a companhia