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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Tem muita fruta podre entre a fome e o alimento*

Não conhecia Franciso de Assis Barbosa, de quem muito se tem falado ultimamente por ocasião do homenageado da Flip 2017. É dele a obra “A vida de Lima Barreto”, escrita, como observa, durante cinco anos (entre 1946 e 1951), entregue ao editor logo em seguida e publicada em 1952. Quando digo que não o conhecia, refiro-me, por exemplo, ao modo como lhe descreve o colega / amigo Otto Lara Resende, em “FAB ou Chico”. 

Impressionou-me saber não que “Lima Barreto ressuscitou na sua pesquisa” (isso já era de conhecimento público – ao menos, por parte de nós, professores de literatura), mas, como a própria pesquisa foi empreendida – nesse sentido, marcou-me muito ter lido seu “Prefácio da primeira edição” (1951) e suas notas “A propósito da quinta [e sexta] edição” (1974; 1981), além é claro da de Beatriz Resende “A propósito da oitava edição” (2002). 

A edição que eu tenho em mãos é a 10ª, de 2012, publicada pela José Olympio. Porém já folhei a 11ª, a cargo da Autêntica, não por acaso agora – lembrem-se: 2017 – FLIP – LIMA BARRETO – MERCADO. Qual a novidade? 

Obviamente, nesta edição, desapareceram textos presentes na da José Olympio quanto aos “Dados biobliográficos do autor” e o inventário de suas obras – estou tratando de Assis Barbosa, de cuja produção (dezesseis obras), a julgar pelos títulos, saltaram-me aos olhos cinco: “Os homens não falam demais”, “Testamento de Mário de Andrade e outras reportagens”, “Retratos de família”, “Machado de Assis em miniatura” e “Santos Dumont, inventor”. 

Obviamente, também, apareceram outros. Porque reedição tem disto: um morder e assoprar de carteira, em virtude do qual sai dolorido o leitor / consumidor – às vezes, enganado (é bom saber). Mas, o fato é que, à semelhança de um pinto no lixo, faço festa; e, à dona da casa (portanto, do próprio pinto e do próprio lixo e do que fazer com eles), incomoda-me saber da limpeza que me aguarda depois. 

Pois bem, vida às reedições! Aos achados! Porque, além das “Obras de Lima Barreto” tal como as organizou Assis Barbosa e outros, surgiram títulos até então inéditos – “Sátira e outras subversões” (2016, pela Companhia das Letras), por exemplo. Morte aos movimentos ludibriosos do mercado editorial! Há tantas Clara dos Anjos por aí, agora; tantos Triste fim de Policarpo Quaresma, que é preciso saber qual escolher. 

As barracas foram armadas. Tem muita fruta podre entre a fome o alimento. 

P.S.: Qualquer obra em domínio público é carne retalhada, salgada e vendida aos pedaços, para os mais distintos paladares. Tem disso também: gente que serve mal, gente que serve bem; gente que engole, gente que mastiga.
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* Mas, fruta é fruta - dirão alguns.

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