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quarta-feira, 10 de abril de 2019

MEDEIROS, Marta. A graça da coisa
Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. E-book.

?!

Cada um tem um cânion pelo qual se sente atraído. Não raro, é o mesmo cânion do qual é preciso escapar.
(Em Amputações
31 de julho de 2011)

?!

[...]. Era para ser divertido para sempre, empolgante para sempre, inspirador para sempre, mas a maioria acredita que a longevidade dos amores é atribuição do destino [...].
[...]. Não basta dar corda e depois cruzar os braços. [...].
Mas quem é que tem paciência para o zelo, de onde tirar disposição para renovar o suspiro mil vezes reprisado? [...].
(Em A arte da manutenção
17 de agosto de 2011)

?!

[...]. Hoje não só engolimos qualquer factoide, [...] como também a produzimos. A invencionice suplantou a arte.
(Em Interativos demais
28 de agosto de 2011)

?!

[...]. Amnésia. É o que explica tanta neurose e tanta infelicidade. A gente procura esquecer para poder ir adiante, mas que espécie de caminho trilhamos quando não enfrentamos a verdade?
Esquecer é uma estratégia de sobrevivência. Somos todos uns esquecidos crônicos. [...].
[...].
E esquecemos, principalmente, de quem somos. Dos nossos ideais, das nossas vontades, dos nossos sonhos, das nossas crenças, tudo em prol de uma adaptação ao meio, [...] de uma covardia que gruda na alma e congela os movimentos. Esquecer de nós mesmos é assinar um contrato com a resignação.
[...] a amnésia é uma opção, não é obrigatória.
(Em Tempos de amnésia coletiva obrigatória
04 de setembro de 2011).

?!

[...]. Não somos apenas a soma das nossas escolhas, mas também das nossas renúncias. Crescer é tomar decisões e depois conviver em paz com a dúvida. [...].
(Em Medo de errar,
25 de setembro de 2011)

?!

A solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmos. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é o que nos sustenta de fato.
(Em Sustento feminino,
28 de outubro de 2011)

?!

[...]. De quem é o livro? A resposta não é a mesma de quando se pergunta quem escreveu o livro. [...]. O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginar os personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as sensações provocadas, [...] tudo o que é transmitido pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. [...]. É do leitor o livro.
[...].
[...]. Assim são as histórias escritas também pela vida, interpretadas a seu modo por cada um.
(Em O dono do livro,
06 de novembro de 2011)

?!

Alguém. Uma entidade a quem confiamos a solução de todos os nossos problemas. Alguém tem que dar um jeito no país. [...]. Mas como ele fará isso por você, sendo alguém tão ocupado?
(Em Alguém quem?,
20 de novembro de 2011)

?!

[...] Kafka e Tchékhov também são autoajuda: dos eruditos aos passatempos, todo livro escrito com honestidade ajuda. [...].
[...].
[...]. Hermetismo nem sempre é sinônimo de inteligência, profundidade não é privilégio dos deprimidos e mesmo histórias bem-escritas podem naufragar se forem pretensiosas.
[...].
Existe autoajuda para todos os gostos. Tendo ou não esse propósito, nenhum livro merece ser diminuído por ter sido útil.
(Em Autoajuda,
30 de novembro de 2011)

?!

Vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.

No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar para casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo. Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade para o fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa-preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.

No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa. Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte.

No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida – todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença. Que adultos se divertem mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.

No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do cartão do banco, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo). Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.

No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.

(O que acontece no meio,
04 de dezembro de 2011)

?!

Elas. As dores silenciosas. As mais contundentes.
[...].
A maior sacanagem do mundo é não dar amor a quem não espera outra coisa. [...].
(Em Vidas secas,
07 de dezembro de 2011)

?!

[...]. De nada adianta levar o corpo para passear se a alma não sai de casa.
(Em A capacidade de se encantar,
22 de abril de 2011)

?!

Poesia. É ela quem sempre nos salva do ridículo e dá à vida uma transcendência cada vez mais necessária.
(Em Carisma e inocência,
06 de junho de 2012)

?!

[...] o amor requer um mínimo de consistência, senão o castelo vem abaixo.
(Em Construção,
10 de junho de 2012)

?!

[...]. Coragem, mesmo, é [...] enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortalece o ser humano. 
(Em Coragem,
17 de junho de 2012)

?!

[...] de onde muito se espera – boates, festas, bares – é que não surge nada. O amor prefere se aproximar dos distraídos.
(Em De onde surgem os amores,
05 de agosto de 2012)

?!

Viajar é sair em busca dos nossos pedaços para integralizar o que costuma ficar incompleto no dia a dia.
[...]. É sempre assim. Há em nós uma persona oculta que só se revela quando a gente se põe em movimento [...] porque [...] viajar é uma jornada simultânea de ida e volta, nosso passado e nosso futuro marcando um encontro no asfalto. [...].
(Em O poder terapêutico da estrada,
08 de agosto de 2012)

?!

São nauseantes, porém decisivas e libertadoras essas perguntas que nos fazem os psicoterapeutas e também nossos melhores amigos, não nos permitindo rota de fuga. E aí? Quem é você de verdade?
(Em Não parecia eu,
19 de agosto de 2012)

?!

Depois de terem vivido, por anos, a proximidade mais [...] abençoada que pode haver entre duas pessoas apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque. Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram. [...].
O corpo interditado. [...]. O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.
(Em Corpo interditado,
26 de agosto de 2012)

?!

Identificar suas próprias felicidades e, mesmo nem tudo dando certo, gostar da vida que leva.
(Em Pequenas felicidades,
09 de setembro de 2012)

?!

Solitários somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?
[...].
Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.
(Em Nós,
30 de setembro de 2012)

?!

Analisar-se é aprender a narrar a si mesmo. [...].
(Em Narrar-se,
07 de outubro de 2012)

?!

[...]. O amor que nos serve e que nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão.
(Em A melhor versão de nós mesmos,
03 de novembro de 2012)

?!

Sol combina [...] com sorriso luminoso [...]. Quando ele se põe, me ponho junto, e nem assim apago: no escuro, me dedico aos vaga-lumes.
(Em Os solares,
02 de dezembro de 2012)

?!

[...]. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, [...] sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, [...] É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular.
Qual mundo que você precisa exterminar da sua vida?
(Em O fim e o começo,
30 de dezembro de 2012)

?!

Numa época em que todos andam viciados em existir publicamente, [...] o que ela teria para contar – e o que todos teriam para contar, se o mundo estivesse a fim de ouvir – é que ter uma vida interessante depende apenas do olhar amoroso que lançamos sobre nossa própria história.
(Em Matéria-prima de biografias,
27 de janeiro de 2013)

?!

[...] a música não é uma forma de ocupar o silêncio, simplesmente. [...]. Ela vai buscar você onde você se esconde. E compartilhar isso com quem amamos é roçar no sublime.
[...].
Coisa mais triste quando, ao recordar um amor, a gente tenta lembrar: qual era a nossa música? E não havia.
(Em Afinados,
24 de fevereiro de 2013)

?!

[...]. Ficar sozinho não é estar abandonado, ao contrário: é encontro dos mais sagrados. Invisível para os outros, extremamente visível para si mesmo.
É divertido ser invisível e todos nós tempos esse poder [...]. A visibilidade é que é rara: olhar profundamente para dentro e enxergar o que ninguém mais consegue ver.
(Em Visíveis para si mesmo,
24 de março de 2013)

?!

[...]. Deixar de esperar é uma libertação.
(Em Apegos,
27 de março de 2013)

?!

[...]. Escrever exorciza, invoca energia. [...].
[...].
[...]. Ler é o diálogo silencioso com nossos fantasmas. [...].
(Em Dialogando com a dor,
31 de março de 2013)

?!

[...] é o tempo que nos esculpe, e ele não tem pressa alguma em terminar o serviço, até porque sabe que todo ser humano é uma obra inacabada. [...].
[...].
[...]. Amadurecer é passar por esse refinamento [...]. O que o tempo garimpa em nós? O verdadeiro sentido da vida.
[...]. Essa é a obra-prima de cada um, extraída em meio ao entulho que nos cerca.
(Em O Michelangelo de cada um,
16 de junho de 2013)

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